sábado, 30 de julho de 2016

Antítese.

Congelo.   
Meu corpo se tornara uma casca morna e fina onde, por dentro, há frio absoluto.
Congelo por dentro numa intensidade em que a menor temperatura ambiente possível jamais conseguiria tornar meu corpo, de alguma forma, isotérmico.
Meu interior tem seus espaços inteiramente preenchidos entre o gelo e o vazio. O nada e o frio dominam minha existência de tal maneira que qualquer mínimo sinal de calor é perdido e se torna apenas uma extensão daquilo que é gelo; qualquer mínimo sinal de matéria é engolida pelo vazio até que sua existência se torne nula. Meu exterior, composto por uma fina, frágil e morna camada de existência que funciona como capsula de meu frio buraco negro.  

Buraco negro.  
Suga todo resquício de matéria e consistência que já existiu e possa vir a existir dentro de algo que um dia fui eu. Extorque tudo aquilo que possa haver em meu interior de tal forma que a única sensação palpável que vem de meu interno é a pressão que meu vazio faz sobre meus ossos. Meu esterno, minhas costelas, minha escápula e cada uma de minhas vértebras convivem com a constrição constante causada pelo vácuo que me preenche.  
Ossos.  
Meus ossos são os resultados sólidos da pressão ocasionada por meu vazio. Constituídos por uma massa concreta da mistura entre gelo, melancolia, lugubria e os fósseis do que um dia fora minha existência inteiramente tangível. Tudo o que há de consistente em meu corpo é composto pelo petróleo de meu próprio passado. Meus ossos são fantasmas do que antes que já fui.   

Mesmo naquilo em que existo, não existo.  
Tudo o que era, deixei de ser. Tornei-me uma sombra vaga, produzida pela memória daquilo que já fuiMarcada por uma existência tão incompleta e inconsistente que não pode ser explicada por nada além de antíteses. Tornei-me uma antítese quando deixei de me tornar algo minimamente corpóreo. Meu tudo é incessantemente dominado por nadas até que, inevitavelmente, não haja mais tudo em minha existência e eu me torne a materialização daquilo que realmente sou.  
Vazio. 

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