segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Suicídio.

Foi suicídio quando me olhei no espelho e tomei consciência do quão deformada, defeituosa e gorda minha face é e sempre foi. Um erro visível e latente. Ofensa à estética. Foi suicídio quando olhei para baixo e tomei consciência da quantidade de gordura e defeito acumulados em todo meu corpo. Como uma mutação disfarçada do porco mais feio e suculento. Quando olhei ao meu redor e tomei consciência que tenho a carcaça mais incompleta, nojenta e errada que já observei.  Quando tomei consciência que minha existência é um fardo, meu corpo é um fardo e minhas necessidades não passam de um mero estorvo àqueles a minha volta. Um peso morto, vivo. Foi suicídio quando olhei para trás e tomei consciência que toda a minha vida se resumiu a uma tentativa ínfima de tornar meus pensamentos e condição de existência algo menos lúgubre e perdedor. Quando tomei consciência que com cinco ou dez anos estive na mesma condição, enterrada por baques e decepções. A criança que não tinha amigos e a adolescente que gostava de morrer. Foi suicídio quando tomei consciência que nunca fui e serei plenamente feliz, pois o erro está em mim. Defeito de fábrica. Quando tomei consciência que o problema não é aqueles a minha volta ou o local físico em que estou, mas sim eu. O defeito está em mim. O defeito sou eu. Estorvo ambulante que causa miséria a tudo que toca. A miséria sou eu. Foi suicídio mental, morta por dentro e viva por fora. Sorriso estúpido costurado em uma face que nem mais chora por dentro, pois não sente. Quando sinto, dor. Um ódio de mim mesma tão latente que me cega a tudo que seja meramente positivo. Um eu interior tão odioso e miserável que afoga todas as tentativas de resquícios de uma vida feliz. Um eu interior tão podre e narcótico que me caça, me observa e me toca. Seu toque entorpecente; queima e escurece tudo aquilo que brilha. Transforma o brilho de euforia em um sulco negro de penúria psicológica. Um eu interior tão tóxico que mata a mim e a si mesmo com seu simples toque. Morta por dentro. Vítima de sua própria psicose. Carcaça ambulante e efêmera seguindo uma linha invisível em rumo ao descanso físico. Não é suicídio se a alma está morta.

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